Ele cometeu um dos atos mais monstruosos da história dos mangás. Então, como a frase “Griffith não fez nada de errado” se tornou um dos debates mais duradouros da cultura pop? Não vamos julgar. Vamos analisar a lógica fria por trás da maior polêmica de Berserk.
AVISO: Este artigo contém SPOILERS MASSIVOS e discute temas extremamente pesados e perturbadores do mangá Berserk, de Kentaro Miura. A análise a seguir não busca absolver o personagem, mas sim dissecar um argumento popular entre os fãs.
Existe uma frase na internet capaz de iniciar guerras instantâneas em qualquer fórum, grupo ou seção de comentários: “Griffith não fez nada de errado”. Para a maioria, é uma afirmação absurda, um meme para provocar. Como é possível defender o homem que sacrificou seus companheiros em um banho de sangue infernal para se tornar um deus?
Hoje, no Buteco Nerd, não vamos passar pano nem emitir um veredito. Vamos fazer algo mais complexo: vamos entender o argumento. Vamos descer ao fundo do poço da lógica de Griffith para compreender por que essa polêmica é tão fascinante e eterna.

O Sonho Como Destino Manifesto
O primeiro pilar do argumento é a natureza do sonho de Griffith. Desde o início da Era de Ouro, ele deixa claro que seu único objetivo de vida é obter seu próprio reino. Isso não é um mero capricho ou uma ambição comum; para Griffith, é seu destino manifesto, a única razão de sua existência. Ele se vê como um escolhido pela causalidade, destinado a governar.
Dentro dessa lógica, o Bando do Falcão nunca foi uma família de amigos em pé de igualdade. Eles eram instrumentos, seguidores devotos que se uniram a ele cientes de que estavam servindo ao sonho de um único homem. Griffith nunca os enganou. Ele ofereceu glória, propósito e vitórias, e eles o seguiram sabendo que sacrifícios seriam necessários para alcançar o objetivo final. Eram degraus na escada de Griffith para o céu — ou para o inferno.

A Traição Original: A Fratura Causada por Guts
O ponto de virada de Berserk, e o segundo pilar da defesa de Griffith, não é o Eclipse. É a saída de Guts do bando. Para entender o impacto disso, é preciso analisar a relação dos dois. Griffith via todos como peças em seu tabuleiro, mas Guts era diferente. Ele era sua espada, sua posse mais valiosa, o único que o fazia, por breves momentos, esquecer de seu sonho.
Quando Guts o derrota no duelo na neve para buscar seu próprio sonho, ele não está apenas pedindo demissão. Ele está se declarando um igual, quebrando a hierarquia na qual o mundo de Griffith se baseava. Para a psique de Griffith, essa foi a traição definitiva. Não foi a perda de um soldado, mas a quebra de sua própria percepção de controle e excepcionalismo.
É esse ato que o destrói. A noite imprudente com a Princesa Charlotte e sua consequente prisão e tortura são apenas os sintomas da ferida aberta por Guts. Do ponto de vista de Griffith, Guts foi o primeiro a sacrificar a “amizade” em nome de um objetivo pessoal, desencadeando a ruína de tudo.

O Sacrifício Como Escolha Lógica, Não Emocional
No momento do Eclipse, Griffith não é mais o Falcão Branco. Ele é um aleijado, mudo, um corpo quebrado cujos sonhos se transformaram em pó. O Bando do Falcão, ao resgatá-lo, estava apenas seguindo um fantasma. O sonho já estava morto.
É nesse ponto, o fundo do poço, que a Behelit lhe oferece uma escolha. E, para a lógica fria do argumento, a escolha não é “mate seus amigos ou fique triste”. É: “permaneça este farrapo inútil para sempre, arrastando todos para o seu fracasso, OU sacrifique as ferramentas que já não lhe servem para finalmente alcançar o destino pelo qual todos vocês lutaram e morreram”.
Para a mentalidade utilitária e amoral de Griffith, a escolha é terrivelmente óbvia. Ele sacrifica os corpos de seus seguidores para ressuscitar o sonho pelo qual todos eles viveram. É a conclusão lógica de sua filosofia de vida, levada ao extremo mais monstruoso.

Consistência, Não Heroísmo: O Núcleo do Argumento
A defesa de “Griffith não fez nada de errado” não tenta pintá-lo como um herói. O argumento central é que ele é um dos personagens mais consistentes da ficção. Ele apresentou suas regras no início do jogo e as seguiu até o fim, custe o que custar. Ele disse que um amigo de verdade deveria ter seu próprio sonho. Ele disse que caminharia sobre uma montanha de cadáveres para alcançar o seu. Ele fez exatamente isso.
Enquanto Guts é movido pela emoção, pela vingança e por um código moral em constante evolução, Griffith é uma força da natureza, uma personificação da ambição pura e desimpedida. O argumento não pede que você goste dele. Pede que você reconheça que, dentro de sua própria filosofia aterrorizante, cada passo que ele deu foi… lógico.
É claro que essa lógica encontra seu limite no ato contra Casca, um momento de crueldade que transcende qualquer justificativa tática e se torna o ponto indefensável até para os maiores defensores do meme. Mas a discussão sobre o sacrifício do Bando permanece, eterna e fascinante.
Quer ver essa análise em um formato mais rápido? Confira nosso shorts sobre o tema!
E agora, a pergunta que vale um milhão: de que lado dessa guerra você está? Griffith é um monstro indefensável ou um homem que seguiu sua natureza até as últimas e mais terríveis consequências? Deixe sua opinião (civilizada, por favor) nos comentários!